Diego Carvalho Corrêa.[1]
Com o desenrolar do golpe a partir do
sudeste e centro-oeste do país, a Bahia se curva, ou melhor, parte de seus
grupos dominantes e oligárquicos aderem prontamente à nova combinação política
nacional. Mesmo a configuração do governo Estadual se modifica em um novo
acordo político. Lomanto Jr. que desenvolvia um governo próximo das proposições
reformista de João Goulart[2], fica
sem alternativas sendo forçada a adesão aos golpistas,
O triunfo da
Conspiração de Mourão Filho representou, no plano local, a derrota do
“populismo moderado” de Lomanto Jr. e o colapso da política pendular da ala
liberal da UDN. [3]
Por movimento pendular perdido pela
UDN, ressaltamos que o golpe permitiu aos setores mais conservadores desta, uma
posição política privilegiada e o abandono da UDN por setores mais abrandados e
liberais que se posicionaram contra o golpe. Surgia para a Bahia a
possibilidade de atores políticos locais e regionais ampliarem suas ações e
feitos políticos, a ditadura permitiria o surgimento de novos sujeitos
representantes de projetos políticos antigos de grupos dominantes da Bahia,
estava se “abrindo caminho a uma democracia átona, sem “irracionalidade” sindicalista
e ideologias “exóticas” [4].
A cidade de Feira foi um dos lugares
do estado onde grupos de resistência ao golpe atuaram. Francisco Pinto ficou
mais de um mês após o golpe no governo, tendo tempo suficiente para manifestar
planos de resistência. O prefeito, juntamente com outros sujeitos, planejava
uma aliança da guarda municipal com o Tiro de Guerra para resistir ao golpe, o
que não aconteceu, o tenente-coronel Luiz Gonzaga seria a favor do golpe
implicando na tentativa de sua prisão por parte do prefeito[5]. Pinto tinha
por intenção fortalecer um grupo de resistência regional para ajuntar-se com o
governo federal, sendo forçado a desistir depois da noticia do abandono do
presidente da capital federal[6]. Há
muitos relatos de ex-militantes que contam versões sobre essa tentativa
frustrada de Pinto, e mesmo o deslocamento de militantes para a cidade para
incorporar a resistência[7]. Porém,
nos interessa mais neste momento o comportamento da UDN em relação ao golpe.
É da UDN local que saiu a deposição
de Francisco Pinto, caso comum em todo país, na Bahia o golpe também criou a
possibilidade de afastamento de inimigos políticos em prefeituras[8] e câmaras
de vereadores, além de perseguições de militantes de oposição tanto da UDN como
do regime. Foi com o golpe que os quadros da UDN puderam afastar o “mal” da
administração local que “sempre obedeceu a orientação comunista” [9]. Com a
volta dos vereadores depois do recesso de final de ano da Câmara e instalado
golpe, Hugo Silva fez questão de propor uma moção de congratulação as “Forças
Armadas do Brasil e a todos os brasileiros que se empenharam na luta contra o
comunismo” [10],
sugerindo na mesma fala a deposição do prefeito por realizações de atividades subversivas.
Era a oportunidade da UDN local voltar ao poder e interromper a participação
popular nas atividades políticas da cidade.
[1] Mestrando em História pela Universidade
Estadual de Feira de Santana e pesquisador do Laboratório de História e Memória
da Esquerda e Lutas Sociais/Labelu/UEFS. Diretor de Cultura do município de
Santa Bárbara.
[2]
Lomanto Jr. era adesista das proposições reformista que se gestavam no governo
Jango e outras anteriores, queria autonomia para por em prática as reformas no
estado e lutava para recolocar a Bahia como um Estado de destaque na
configuração política e econômica nacional. Ver: FERREIRA, Muniz Gonçalves. O
golpe de estado de 1964 na Bahia.
Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/licitacao/observa_bahia_02.pdf>,
p. 14. Acesso em 07/ 09/2009.
[3] Lomanto
Jr. chegou a participar do comício de 13 de março de 1964 do presidente Goulart
em Salvador, a intenção era aproximar-se do executivo nacional já que a Bahia
precisa do apoio deste devido seu panorama econômico complicado pela estiagem.
Ver: DIAS, José Alves. O Golpe de 1964 e as dimensões da repressão em vitória
da conquista. In: ZACHARIADES, Grimaldo Carneiro. (Org.) Ditadura Militar na Bahia: Novos Olhares, Novos Objetos, Novos
Horizontes. Salvador: EDUFA, 2009, p. 69. & FERREIRA, Muniz Gonçalves. O
golpe de estado de 1964 na Bahia.
Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/licitacao/observa_bahia_02.pdf,
p. 14. Acesso em: 07/ 09/2009.
[4]
DANTAS, Paulo Fábio. Quebra da casca do ovo: A elite baiana e a obra do golpe 1964.
http://www.fundaj.gov.br/licitacao/observa_bahia_01.pdf,
p. 221. Acesso em 08/04/2008.
[5]
Informação recolhida por Campos no Jornal A Tarde de 31 de março de 2004. CAMPOS,
Ricardo da Silva. O Putsh na Feira: sujeitos
sociais, partidos políticos e política em Feira de Santana, 1959-1967.
(Monografia), p. 45.
[6] Idem,
Ibidem, p.46.
[7]
Ver; ZACHARIADES, Grimaldo Carneiro. (Org.) Ditadura Militar na Bahia: Novos
Olhares, Novos Objetos, Novos Horizontes. Salvador: EDUFA, 2009. Depoimentos de
Chico Pinto em: NADER, Ana Beatriz. Autênticos
do MDB: semeadores da
democracia: historia oral de vida política. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1998. Depoimentos de ex-militantes de organizações políticas como o PCB
em Feira de Santana, ver: Seminário Chico Pinto: Democracia e Ditadura em Feira
de Santana, realizado pelo LABELU – UEFS, em Setembro de 2007. (DVD)
[8]
São exemplos as deposições do prefeito de Vitória da Conquista, Pedral Sampaio
e de Salvador, Vigildásio Senna.
[9] Ata da
113° Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Feira de Santana. 08/04/1964.
[10] Moção
N° 01/64. Ata da 13° Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Feira de Santana.
08/04/1964.
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