O Golpe Militar de 1964: a UDN volta ao poder em Feira de Santana.



Diego Carvalho Corrêa.[1]

Com o desenrolar do golpe a partir do sudeste e centro-oeste do país, a Bahia se curva, ou melhor, parte de seus grupos dominantes e oligárquicos aderem prontamente à nova combinação política nacional. Mesmo a configuração do governo Estadual se modifica em um novo acordo político. Lomanto Jr. que desenvolvia um governo próximo das proposições reformista de João Goulart[2], fica sem alternativas sendo forçada a adesão aos golpistas,
O triunfo da Conspiração de Mourão Filho representou, no plano local, a derrota do “populismo moderado” de Lomanto Jr. e o colapso da política pendular da ala liberal da UDN. [3]  
Por movimento pendular perdido pela UDN, ressaltamos que o golpe permitiu aos setores mais conservadores desta, uma posição política privilegiada e o abandono da UDN por setores mais abrandados e liberais que se posicionaram contra o golpe. Surgia para a Bahia a possibilidade de atores políticos locais e regionais ampliarem suas ações e feitos políticos, a ditadura permitiria o surgimento de novos sujeitos representantes de projetos políticos antigos de grupos dominantes da Bahia, estava se “abrindo caminho a uma democracia átona, sem “irracionalidade” sindicalista e ideologias “exóticas” [4].
A cidade de Feira foi um dos lugares do estado onde grupos de resistência ao golpe atuaram. Francisco Pinto ficou mais de um mês após o golpe no governo, tendo tempo suficiente para manifestar planos de resistência. O prefeito, juntamente com outros sujeitos, planejava uma aliança da guarda municipal com o Tiro de Guerra para resistir ao golpe, o que não aconteceu, o tenente-coronel Luiz Gonzaga seria a favor do golpe implicando na tentativa de sua prisão por parte do prefeito[5]. Pinto tinha por intenção fortalecer um grupo de resistência regional para ajuntar-se com o governo federal, sendo forçado a desistir depois da noticia do abandono do presidente da capital federal[6]. Há muitos relatos de ex-militantes que contam versões sobre essa tentativa frustrada de Pinto, e mesmo o deslocamento de militantes para a cidade para incorporar a resistência[7]. Porém, nos interessa mais neste momento o comportamento da UDN em relação ao golpe.
É da UDN local que saiu a deposição de Francisco Pinto, caso comum em todo país, na Bahia o golpe também criou a possibilidade de afastamento de inimigos políticos em prefeituras[8] e câmaras de vereadores, além de perseguições de militantes de oposição tanto da UDN como do regime. Foi com o golpe que os quadros da UDN puderam afastar o “mal” da administração local que “sempre obedeceu a orientação comunista” [9]. Com a volta dos vereadores depois do recesso de final de ano da Câmara e instalado golpe, Hugo Silva fez questão de propor uma moção de congratulação as “Forças Armadas do Brasil e a todos os brasileiros que se empenharam na luta contra o comunismo” [10], sugerindo na mesma fala a deposição do prefeito por realizações de atividades subversivas. Era a oportunidade da UDN local voltar ao poder e interromper a participação popular nas atividades políticas da cidade.


[1]  Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana e pesquisador do Laboratório de História e Memória da Esquerda e Lutas Sociais/Labelu/UEFS. Diretor de Cultura do município de Santa Bárbara.
[2] Lomanto Jr. era adesista das proposições reformista que se gestavam no governo Jango e outras anteriores, queria autonomia para por em prática as reformas no estado e lutava para recolocar a Bahia como um Estado de destaque na configuração política e econômica nacional. Ver: FERREIRA, Muniz Gonçalves. O golpe de estado de 1964 na Bahia. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/licitacao/observa_bahia_02.pdf>, p. 14. Acesso em 07/ 09/2009.
[3] Lomanto Jr. chegou a participar do comício de 13 de março de 1964 do presidente Goulart em Salvador, a intenção era aproximar-se do executivo nacional já que a Bahia precisa do apoio deste devido seu panorama econômico complicado pela estiagem. Ver: DIAS, José Alves. O Golpe de 1964 e as dimensões da repressão em vitória da conquista. In: ZACHARIADES, Grimaldo Carneiro. (Org.) Ditadura Militar na Bahia: Novos Olhares, Novos Objetos, Novos Horizontes. Salvador: EDUFA, 2009, p. 69. & FERREIRA, Muniz Gonçalves. O golpe de estado de 1964 na Bahia. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/licitacao/observa_bahia_02.pdf, p. 14. Acesso em: 07/ 09/2009.
[4] DANTAS, Paulo Fábio. Quebra da casca do ovo: A elite baiana e a obra do golpe 1964. http://www.fundaj.gov.br/licitacao/observa_bahia_01.pdf, p. 221. Acesso em 08/04/2008.
[5] Informação recolhida por Campos no Jornal A Tarde de 31 de março de 2004. CAMPOS, Ricardo da Silva. O Putsh na Feira: sujeitos sociais, partidos políticos e política em Feira de Santana, 1959-1967. (Monografia), p. 45.
[6] Idem, Ibidem, p.46.
[7] Ver; ZACHARIADES, Grimaldo Carneiro. (Org.) Ditadura Militar na Bahia: Novos Olhares, Novos Objetos, Novos Horizontes. Salvador: EDUFA, 2009. Depoimentos de Chico Pinto em:  NADER, Ana Beatriz. Autênticos do MDB: semeadores da democracia: historia oral de vida política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. Depoimentos de ex-militantes de organizações políticas como o PCB em Feira de Santana, ver: Seminário Chico Pinto: Democracia e Ditadura em Feira de Santana, realizado pelo LABELU – UEFS, em Setembro de 2007. (DVD)
[8] São exemplos as deposições do prefeito de Vitória da Conquista, Pedral Sampaio e de Salvador, Vigildásio Senna. 
[9] Ata da 113° Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Feira de Santana. 08/04/1964.
[10] Moção N° 01/64. Ata da 13° Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Feira de Santana. 08/04/1964.

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